sexta-feira, 19 de setembro de 2008

AS "LÍNGUAS" São Estranhas Mesmo

Muitas vezes criticamos as traduções que acrescentaram o adjetivo "estranhas" às línguas que os crentes falam ao serem batizados no Espírito Santo. Dizíamos em nosso zelo quixotesco: " Essa palavra ("estranha") não está em nenhum texto grego adotado para as versões do Novo Testamento!".
Citavamos os textos de Eberhard Nestlé e Westcott e Hort, o Textus Receptus, o Majority Text e o ancient Text With Modern greek Translation para "provar" que aquelas versões não estavam corretas. Ledo engano.
As "novas línguas" prometidas por Jesus, em Marcos 16.17, como talvez os "gemidos inexprimíveis" aludidos por Paulo em Romanos 8.26, assim como as "línguas que ninguém entende" citada pelo mesmo apóstolo em 1Co 14.2, podem realmente ser denominadas "línguas estranhas"!
Jesus declarou que vários sinais deveriam acompanhar aqueles que crêem em seu nome. Falar em "novas línguas" constitui-se o segundo desses sinais (Mc 16.17). Que novas línguas seriam essas que os crentes judeus e gentios falaram ao serem batizados no Espírito santo nas mais diferentes circunstâncias, datas e lugares?
Eis algumas das mais freqëntes opiniões: (1) Os crentes aprendem uma nova maneira de falar; não dizem mais palavras torpes, etc (2) Os missionários aprendem novas línguas para evangelizar em missões transculturais. (3) A promessa de Jesus quando os discípulos no Cenáculo pregaram em 14 línguas que não conheciam pela primeira e última vez, revertendo assim a maldiçao imposta por Deus durante a da construção da torre de Babel (Gn 11.1-9).
Não concordamos com essas explicações. Jesus não está falando sobre o vocabulário, ou linguagem de alguma pessoa. A palavra glwssh (glôsse) significa língua, órgão muscular da cavidade bucal ou ainda o idioma, conjunto das palavras e expressões usadas por um povo ou nação. Ora, a declaração de Paulo" o que fala língua estranha não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende" (1Co 14.2) invalida totalmente essa opinião.
Preferimos a interpretação feita exata e exclusivamente sobre o texto escrito por Lucas em Atos 2.8,11, como se segue (a tradução é çiteral): Kai pwv hmeiv akouomen ekastov th idia dialektw hmwn en h egennhyhhmen (Como, pois os ouvimos cada um na nossa própria língua em que somos nascidos?); akouomen lalountwn autwn taiv hmeteraiv glwssaiv ta megaleia tou yeou (Ouvimos falando os mesmos nas nossas línguas os grandes feitos de Deus).
O texto não diz claramente que os díscipulos falavam as línguas dos "judeus vindos de todas as nações debaixo do céu"; mas que estes os ouviam falar em suas próprias línguas.
Parece razoável crer que Deus operou no Dia de Pentecostes dois milagres simultâneos: (1) Todos os 120 discípulos começaram a falar em outras línguas - eteraiv glwssaiv ( eterais glossais). Eteros significa outro de outra espécie. Daí o nome "heterogêneo"" (Gl 1.6). Esse adjetivo é diferente de allos, que significa outro da mesma espécie (Jo 14.16). (2) Muitos "judeus vindos de todas as nações debaixo do céu" os compreendoiam como se eles estivessem falando em suas próprias línguas. Essas interpretações elimina algumas dificuldades que podem surgir à compreensão do texto. Senão, vejamos:
1) 120 pessoas falando ao mesmo tempo, em qualquer língua, ninguém as poderiam entender! Quando mais se falarem em 14 línguas diferentes! Temos demonstrado essa assertiva colocando alguns alunos fora da sala de aula e pedindo aos que ficaram na classe que recitassem diferentes versículos da Bíblia, letras de hinos ou orações em alta voz. Nenhum dos observadores que ficaram a uns dez metros da classe conseguiu repetir uma frase sequer do que foi falado dentro da sala.
2) Se os discípulos todos estivessem falando palavras naturalmente inteligíveis, não se justificaria a chacota de alguns, dizendo que os discípulos estavam bêbados (cheio de vinho doce).
3) Temos ouvido muitas vezes em nossa ´própria língua ( o português) preletores e conferencistas alemães, franceses e até japoneses falando em suas próprias línguas! Isso é possível porquê cada congressista recebe um aparelhinho com várias opções de sintonia para que a língua que deseja escutar nos fones de ouvidos. O canal 1 sintonizava para alguém que traduzia para o espanhol; o canal 5, para quem queria ouvir em português e assim por diante. Cremos que no Dia de Pentecoste, o Espírito santo fez exatamente o que fazem aqueles tradutores.
Dez anos depois do Dia do Pentecoste, Cornélio e seus familiares falaram em línguas, também ao serem batizados no Espírito santo (At 19.1-6). Isso nos leva a concluir que as línguas estranhas não cessaram depois do Dias de Pentecostes e também não eram idiomas de outros povos, pois todos os que escutavam a Pedro e a Paulo também falavam a mesma língua que estes usaram então.
A Enciclopédia de Bíblia Teológica e Filosofia admite “que essas línguas tivessem sido um sinal de poder e de prova da descida do Espírito”. Pois não havia necessidade de mais línguas com vista à evangelização. Portanto, nesses casos, temos uma razão diferente para o fenômeno, sendo indubitável que as línguas então faladas não foram entendidas nem interpretadas. Seu intuito não era evangelizar e nem ensinar.
Analisemos a seguir as palavras de Jesus conforme estão escritas no original grego: Shmeia de toiv pisteusasin akolouvhsei tauta en tv onomati mou daimonia ekbalousin glwssaiv lalhsousin kainaiv ("E estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome, expulsarão demônios; falarão novas línguas", Mc 16.17.
A língua grega tem dois adjetivos traduzíveis por novo: neov, neos (ad tempus refertur, isto é, referente ao tempo0 e Kainov, Kainós( Ad rem, isto é, referente à própria coisa, fato, etc) Kainais (novas) tem o significado de nunca previamente usado, inédito ou estranho. Segundo afirmam os mais eruditos filólogos da língua grega do Novo Testamento, como Strong. William Carey Taylor, Isidro Pereira e K. Harold Moulton.
É, portanto, lícito concluir que as "novas línguas" prometidas por Jesus como sinal que acompanhariam sua Igreja são realmente as línguas estranhas, " línguas que ninguém entende", mas edificam a quem as recebe, como explica Paulo (1 Co 14.2,18). Quis o Espírito Santo que três capítulos da Bíblia fossem dedicados ao ensino sobre os dons espirituais, e de modo especial ao exércicio desse sinal prometido por Jesus que também é um dom manifestado pelo espírito Santo.
Cumpre lembrar que foram as línguas a única das evidências mencionadas nos três casos claramente relatados de Batismo no Espírito santo em Atos 2.4; 10.44-46 e 19.1-6