sexta-feira, 6 de abril de 2018

O BATISMO COM FOGO

E já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore pois que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo. Eu, na verdade vos batizo em água, na base do arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu, que nem sou digno de levar-lhe as alparcas; ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo. A sua pá ele tem na mão e limpará bem a sua eira; recolherá o seu trigo ao celeiro mas queimará a palha em fogo inextinguível.”  Mt 3. 10-12

O pentecostalismo se destaca dentre os demais seguimentos históricos do cristianismo por sua ênfase na doutrina bíblica do batismo no Espírito Santo como sendo uma benção distinta e separada da conversão e também do wesleyanismo por não igualar esta experiência com a santificação.
Por meio de uma ênfase habilitadora e carismática, o batismo no Espírito é visto como um revestimento de poder sobrenatural (Grego: dynamis), que capacita o salvo na expansão do Reino de Deus aos moldes da igreja primitiva, “Porque o Reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder.” 1Co 4. 20.

Apesar de haver dentro do meio reformado (alguns puritanos) e wesleyano a compreensão do batismo no Espírito como sendo uma benção separada e diferente da conversão o pentecostalismo se encontra só na visão carismática da doutrina, porém no que se refere à interpretação do texto de Mateus 3. 11 não há unanimidade dentro do pentecostalismo clássico e por mais que haja divergências na compreensão desta doutrina, há não-pentecostais que concordam com alguns pentecostais na visão de que “o batismo com o Espírito Santo e com fogo” é um só e mesmo evento, diferindo apenas no que consiste tal batismo, pois estes não-pentecostais são defensores da visão de que o referido batismo é a conversão.

SOBRE O BATISMO NO ESPIRITO E FOGO
PENTECOSTAIS
NÃO PENTECOSTAIS
COMO UM SÓ EVENTO
Anthony D. Palma, French Arrington
D. A. Carson, Lloyd-Jones
COMO DOIS EVENTOS DISTINTOS
Stanley Horton, Craig Keener
John Stott, Augustus Nicodemus

Este breve estudo pretende trabalhar o assunto entre teólogos pentecostais e advogar sobre “o batismo com o Espírito Santo e com fogo” como sendo uma única benção.
Os que acreditam que a expressão “batismo com o Espírito Santo e com fogo” denota dois eventos distintos, trazem a lume a questão do contexto, onde este expressa claramente juízo de Deus para os impenitentes.

O teólogo pentecostal Craig Keener diz o seguinte:
“Mas, é o que a bíblia quer dizer quando diz 'batismo de fogo' nesta passagem? Às vezes na bíblia, o fogo é usado como um símbolo da intensa santidade de Deus ou das evidências que trazem purificação, mas quando no Novo testamento o fogo é colocado junto com a imagem do batismo, isso não tem a ver com purificação simples do indivíduo, mas com a purificação de todo o mundo através do juízo.” [1]
Mais a frente ele vai afirmar que “Nos versículos que lhe antecedem e aqueles que seguem o nosso versículo, 'fogo'  refere-se ao inferno (Mt 3. 10, 12)”.

O notável e já falecido teólogo pentecostal Stanley Horton concorda com Keener quando diz:
“Quando Jesus fala sobre o fogo, refere-se ao do juízo ou da destruição, especialmente o Inferno (gehenna), que é o lago de fogo (Mateus 5. 22; 18. 8, 9)”. [2]
Apelando para o contexto ele diz que “Seria estranho se o fogo em Mateus 3. 10, 12 significasse uma coisa, ao passo que, sem a minima explicação, significasse outra bem diferente no versículo 11”. [3]
Tanto Keener quanto o Horton são pentecostais, e em comum acordo concordam que o “batismo com fogo” registrado em Mt 3. 11 e Lc 3. 16, se refere ao juízo divino.

Realmente o contexto do versículo sendo analisado de modo superficial sem se levar em consideração algumas peculiaridades dos agentes neles descritos, sim, podem levar a conclusão de o “batismo com fogo” é uma das expressões para o juízo divino contra os impenitentes.

Agora partiremos para a opinião de outros dois teólogos pentecostais a começar do French L. Arrington e logo após o Anthony D. Palma. Sobre o batismo com o Espírito Santo e com fogo, comentando o texto paralelo em Lc 3. 16, nos diz  Arrington:
“João Batista não somente prega um batismo “com o Espírito Santo”, mas também um 'batismo com o Espirito Santo e com fogo' (ênfase do autor).  O batismo com fogo pode (ênfase minha) se referir a um segundo aspecto do ministério de Jesus: purificação e julgamento. Porém, 'fogo' no versículo 16 não diz respeito, pelo menos primariamente, ao julgamento final e à destruição por fogo dos ímpios, mas aos acontecimentos momentosos do livro de Atos.” [4]

Ele expressa clara rejeição à ideia de que neste texto há menção de “um batismo no Espírito para os salvos e um batismo de fogo para os ímpios” como advogam alguns. Arrington vai relacionar o “fogo” de Lc 3. 16, e consequentemente em Mt 3. 11, ao que foi manifesto visivelmente em At 2. 3, “línguas repartidas como que de fogo”, defendendo que é um só e o mesmo batismo.
Anthony D. Palma, como lhe é peculiar em seu livro “O Batismo no Espírito Santo e com Fogo” vai apresentar várias visões sobre este assunto, dentre elas as duas citadas aqui. Quando ele emite sua opinião sobre o assunto ele afirma, meio que de modo tímido, ou não tão claro quanto o French Arrington, que “o fogo no dia de Pentecostes não tinha natureza destruidora” [5], ele relaciona claramente o “fogo” de Mt 3. 11 e Lc 3. 16 ao “fogo” do pentecostes.

Mesmo após ser vista a opinião destes gigantes da teologia pentecostal, fica a interrogação, “mas do que se trata este batismo com fogo”?

Antes de apelar para o contexto do versículo 11, precisamos entender do que se trata e onde está inserido tal versículo. Primeiramente, é necessário levar em consideração que não temos a inscrição completa e na íntegra deste discurso de João batista, pelo fato dele ter sido registrado entre vinte a quarenta e cinco anos após sua elocução. Mateus e Lucas narram em suas perícopes aquilo que o Espírito lhes trouxe à mente para a edificação e instrução do público a qual o texto foi destinado e para nós consequentemente. O fato de não termos acesso a completude do discurso de João não nos permite abordar o contexto, nos versículos 10 e 12, como sendo definitivo em nossa interpretação do que venha se tratar o “batismo com fogo” do versículo 11. Então, se tratando de uma narração, Mateus seleciona os pontos a serem escritos pelo grau de importância dado ao público que ele destina seu evangelho, no caso aos judeus.

João está pregando, dele se aproxima muitos fariseus e saduceus. Lançando-lhes em rosto sua situação de incredulidade, ele os chama de “raça de víboras” e os instiga ao arrependimento, base de sua proclamação (Mt 3. 1-8).
João lhes censura a presunção de serem filhos de Abraão, mas permanecerem em sua religião dissociada da vida sincera e piedosa devida ao servo de Deus. Pois pensavam estes que a descendência física de Abraão lhes colocava automaticamente no Reino de Deus.

Isto posto, João lhes diz o seguinte, que estes que eram batizados por ele em águas seria batizado por Jesus. Mas o batismo de Jesus era superior ao dele. Agora, vamos prestar atenção é um detalhe. João lhes diz:


"Ele VOS batizará com o Espírito santo e com fogo".


Percebam que ao mesmo público que João direciona o batismo com o Espírito, ele assim o faz com o "batismo com fogo". Ou seja, quem receberia um batismo concomitantemente receberia o outro. Não por ser dois batismo em um só, mas por ser um só batismo com a utilização de uma dupla linguagem. Veremos mais sobre isso a seguir.


O pastor batista carismático, José Rego do Nascimento vai argumentar da seguinte forma, concordando com esta visão:

"Se João estivesse visando dois grupos distintos e não um só, possivelmente diria: Ele vos batizará com o Espírito Santo OU  com fogo. Mas tal distinção não está no texto. A conjunção, no grego original, é KAI, simples copulativa, indicando íntima relação. João está objetivando determinadas criaturas que seriam batizadas por jesus com o Espírito Santo e com fogo" [6]. 


Utilizando o grego o Pr. José Rego fortalece nosso argumento de que João nem tenciona dois batismos para dois públicos distintos, mas um só. Ainda deve-se salientar que no texto grego não existe a expressão "COM fogo", mas somente "e fogo" deixando claro que tal conjunção no grego torna o fogo inerente ao Espírito e não algo paralelo e à parte deste, como sendo uma execução de juízo pelo Filho de Deus. Ele próprio deixou claro que foi enviado não para condenar, mas para salvar (Jo 3.17).


Mais adiante ele vai citar o The new International Standard Bible Encyclopaedia que diz:
"A copulativa KAI requer que o batismo 'no Espírito Santo e fogo' seja considerado como uma e a mesma cousa" [7].


Sendo assim, creio que este texto envolto em tanta controvérsia doutrinária fala-nos não sobre um juízo iminente, mas sobre a benção do batismo no Espírito Santo. E como vemos na narrativa do pentecostes, não podemos identificar este batismo de fogo com uma benção de santificação, mas como o revestimento de poder. Ou seja, o batismo com fogo é a plenitude do Espírito que os discípulos receberam e que está disposta a tantos quanto forem chamados por Deus (At 2. 39).


[1] KEENER, Craig S. A Bíblia em seu contexto. Disponível para download: http://teologiacarismatica.com.br/category/downloads/

[2] HORTON. Stanley M. A doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. Pág. 97
[3]Ibid.
[4]PALMA. Anthony D. O batismo no Espírito Santo e com Fogo. Pág.60
[5]ARRINGTON. French. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento
[6]NASCIMENTO. José Rego. Calvário e Pentecoste. Pág. 103
[7]Ibid.

2 comentários:

Pr. Hugo Flávio disse...

Texto por demais esclarecedor.

Pr. Hugo Flávio disse...

Texto por demais esclarecedor.