sexta-feira, 13 de abril de 2018

UM CONVITE AO ARREPENDIMENTO

O pecado seduz a tantos quanto se propõem em servir a Deus. A diferença está em como nos mantemos quando estamos diante ou quando caímos nele. Independentemente do que  nos aconteça, o Senhor deseja que retornemo-nos ao primeiro amor nos conduzindo por sua bondade ao arrependimento (Rm 2. 4).


O desejo de Deus pra você é que se arrependa.

Mas, o que é Arrependimento? É uma mudança de mentalidade e de visão. É você tornar para uma posição que não deveria ter abandonado. No pecado nós assumimos uma posição e uma identidade que não é nossa, nem o desejo de Deus para nós. Deus não nos criou para sermos pecadores. Mas, infelizmente o pecado nos afeta totalmente desde que somos gerados (Sl 51.5). Daí, o Arrependimento nos põe na posição para a qual fomos criados, em comunhão com o nosso criador. Nos põe no caminho de retorno para Deus.

Exegeticamente, podemos definir que "arrependimento" significa "um pensamento posterior, diferente de um pensamento anterior". Aquilo que ficou popularizado pela expressão grega que origina a palavra em português, "metanoia", conforme é citado por Vincent, como "mudança de mente" [1].

Portanto, sempre que nos desviamos do propósito de comunhão que o Senhor tem para cada um de nós, necessitamos de arrependimento, pois pecamos. Precisamos voltar-nos para Deus. Reatar a amizade com Ele, por que ele não tolera o pecado. O pecado nos afasta de Deus (2Cr 15.2; Is 59.2; Rm 3. 23). No entanto, quando desviamos os nossos pés como quase aconteceu com o salmista (Sl 73.2), o Senhor nos convida a entrar em sua presença e observar o fim daqueles que permanecem em seus pecados (Sl 73. 17,18).

Além de ser a porta de entrada para a salvação (At 3. 19), o arrependimento é parte integrante da nossa vida cristã (2Co 7. 10). De um modo mais prático podemos defini-lo da seguinte maneira:

"(1) Confissão do pecado - 'Confesso a minha iniquidade: suporto tristeza por causa do meu pecado' (Sl 38.18). 'Pequei contra o céu' (Lc 15.21).

(2) Abandono do pecado - 'O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia' (Pv 28. 13) [...]

(3) Volta para Deus - 'Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo os seus pensamentos; converta-se ao Senhor...' (Is 55. 7). Não devemos apenas abandonar o pecado, mas voltar-nos para Deus (1Ts 1.9; At 26. 18)." [2] 

Portanto, tendo em vista que é necessário voltar à nossa posição de intima comunhão com o Senhor por que não deixar o que o desagrada?

Adulterou? Se arrependa! Retorne para sua posição. Retome sua identidade de marido fiel e de bom pai!
Fornicou? Volte para a busca incessante por santidade. 
Mentiu ou caluniou? Volte e se vista novamente com o cinto da verdade.

Se voltou para o homossexualismo? Volte-se para Deus. Do mesmo modo que há perdão e restauração para todos os outros pecados, este daí não é imperdoável.

Caiu no uso de drogas? Venha pra Jesus, ele é a verdade que liberta. 
Não tenha medo de assumir que pecou e de sofrer as devidas penalidades diante da igreja local. Disciplina não mata.

Enfim! Independente de em qual pecado foi a sua queda, há perdão para você. E só é possível se apropriar do perdão através do arrependimento e entrega total ao Senhor.

Ainda há sangue no calvário para te perdoar. Mais uma vez te digo, não importa o que você tenha feito, o teu pecado não é maior que a misericórdia de Deus para contigo.

Volte-se para Deus!

[1] VINCENT, Marvin R. Vincent: Estudo no Vocabulário grego do Novo testamento. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. 18 p. v. 1.

[2] DUFFIELD, Guy P.; CLEAVE, Nathaniel M. Van. Fundamentos da Teologia Pentecostal. 1. ed. São Paulo: Editora Publicadora Quadrangular, 1991. 287 p. v. 1.

domingo, 8 de abril de 2018

A EXPERIÊNCIA DO ESPÍRITO PARA VOCÊ

(Lc 11. 9-13)
INTRODUÇÃO:

Há uma preciosa experiência que o Senhor provê para o seu povo, e sobre ela vamos aprender com muito entusiasmo hoje;
Que experiência tão importante seria esta? Para quem é essa experiência? Qual o sinal de que eu a recebi?
Vamos observar a necessidade que há de buscar esta experiência e vincular esta busca à oração, tanto no evangelho de Lucas como no livro de Atos dos Apóstolos.

I – O ENSINO DA EXPERIÊNCIA DO ESPÍRITO PARA A IGREJA PRIMITIVA E PARA NÓS HOJE:

Lucas ao escrever tanto o evangelho quanto o livro de Atos assim o fez na intenção de instruir um grego recém convertido chamado Teófilo (que traduzido quer dizer “amigo de Deus”) acerca das coisas que entre eles “se cumpriram” (Lc 1. 1-5).  Isso se deu entre os anos de 60 a 65.
Sendo endereçada primeiramente a Teófilo, as duas perícopes foram posteriormente usadas como fonte de confirmação do cristianismo primitivo pelas igrejas da época.
Lucas através de seus escritos tem a intenção de descrever pelo menos três coisas:


a.       As obras de Jesus através do Espírito: Ele vai narrar seus milagres como sendo decorrentes da plenitude do Espírito a partir de seu batismo (Lc 4. 14). Lucas vai nos ensinar que o que Jesus fez foi como homem ungido e revestido pelo Espírito (At 10.38).
b.       Os ensinos de Jesus aos seus discípulos: Como sendo Jesus o cabeça da Igreja e sua eterna fonte na salvação, vemos através das palavras dele descritas por Lucas ensino autoritativo para a Igreja de todas as épocas e eras até sua volta.
c.       As obras e os ensinos de Jesus por intermédio do seu Espírito através da sua Igreja: Em Atos temos a continuação do ministério de Jesus, só que nesta feita, através de sua igreja, primariamente por intermédio de seus santos apóstolos e posteriormente pelos seus discípulos em geral. Podemos ter esta noção a partir de At 1.1.

Dos escritos de Lucas (Lucas e Atos dos Apóstolos) podemos tirar textos que servem de base para várias doutrinas centrais da fé cristã, quais sejam:

a.       Onipotência de Deus (Lc 1. 37);
b.       Nascimento virginal de Jesus Cristo (Lc 1. 26-38);
c.       Messianidade de Jesus (Lc 4. 17-21);
d.       Doutrina sobre o jejum (Lc 5. 33-39);
e.       Soberania de Jesus em relação ao sábado (Lc 6. 1-5);
f.        Sermão do monte (Lc 6. 17-49);
g.       A humanidade de Jesus (Lc 8. 23);
h.       Chamado salvífico (Lc 9. 23);
i.         O amor salvífico de Jesus (Lc 19. 10);
j.         A crucificação (Lc 23. 33-48);
k.       A ressureição de Jesus (Lc 24. 1-12);
l.         A grande comissão (At 1.8);
m.     O retorno de Jesus em glória (At 1. 11);
n.       A suficiência de Jesus na salvação (At 4.12);
o.       A divindade do Espírito Santo (At 5.3-4);
p.       A instituição dos diáconos (At 6. 1-6).

Temos aqui algumas doutrinas, mas através de uma investigação minunciosa poderíamos encontrar tantos outros textos que corroboram no entendimento de tantas outras doutrinas bíblicas. Mas não é minha intenção com este artigo isso, fiquemos apenas com estes exemplos para entender que os escritos Lucanos também servem para doutrinar.

No entanto, minha intenção é mostrar que assim como utilizar Lucas/Atos para fortalecer doutrinas como as tais que citamos, podemos também para embasar a doutrina Pentecostal. Lucas vai falar sobre a experiência do Espírito em seu caráter carismático de revestimento de poder e capacitação pelo menos 40 vezes, enquanto que Paulo apenas uma vez em Ef 5.18, nos dando maior base para tratar da pessoa e obra carismática e capacitadora do Espírito.

Então, podemos compreender que o que Lucas escreve sobre o Espírito, fazia parte da crença comum da Igreja do primeiro século.
Principais textos que falam do batismo no Espírito Santo e as múltiplas expressões usadas por Lucas para designar tal experiência:

a.       “A promessa do pai”: Lc 24. 49;
b.      “Revestidos de poder”: Lc 24. 49;
c.       “Batizados com o Espírito Santo”: At 1. 5;
d.      “Recebereis a virtude/ poder”: At 1. 8;
e.       “Cheios do Espírito Santo”: At 2. 4
f.        “Derramar do Espírito”: At 2. 17;
g.      “Derramar a promessa”: At 2. 33;
h.      “O dom do Espírito”: At 2. 38;
i.        “A promessa”: At 2. 39;
j.        “Receber o Espírito”: At 8. 15;
k.      “O Espírito descer”: At 8. 16;
l.        “Cheio do Espírito”: At 9. 17;
m.    “Caiu o Espírito”: At 10. 44;
n.      “dom derramado”: At 10. 45;
o.      “Cair o Espírito sobre”: At 11. 15;
p.      “Batizados com o Espírito”: At 11. 16;
q.      “Receber o Espírito quando crer”: At 19. 2;
r.        “O Espírito veio sobre”: At 19. 6.

Através destes textos podemos ver que cada uma destas expressões estão intimamente atreladas a uma única experiência, que é justamente a que Jesus havia instruído os seus discípulos, a qual Lucas descreve em At 1. 5, chamada numa forma substantivada de Batismo no Espírito Santo.

II – UMA EXPERIÊNCIA PARA OS FILHOS

Entendido que aquilo que Lucas ensina tem valor didático e doutrinário também para nós hoje, vamos aprender sobre a Obra do Espírito neste evangelho e em Atos.
É ensino comum nos evangelhos, e também em Lucas, a oração modelo. E nela o Senhor Jesus instrui aos discípulos a se direcionarem a Deus chamando-o de “Pai”. Mostrando que há uma paternidade/filiação entre Deus e aqueles que o servem, conforme Lc 11. 2. Logo, ele ensina que a oração genuína é feita pelos filhos ao Pai que está nos céus.
Desde a experiência inicial de Jesus no Espírito veremos que há uma conexão entre o enchimento capacitador do Espírito com a oração (Lc 3. 21-22);

No batismo de Jesus veremos que o Espírito desce sobre o filho, mostrando que Jesus mesmo nascido do Espírito (Lc 1.35) lhe era necessário ser cheio e revestido do Espírito (At 10.38). E isso ocorre tendo orado.
Logo, quando temos Lucas reproduzindo o ensino de Jesus sobre a oração em Lc 11. 13 temo-lo, incentivando aos seus leitores a buscarem o batismo no Espírito através da oração e petição insistente ao Pai.  A experiência que Lucas trata é uma experiência semelhante a de Jesus no seu batismo por João. É uma experiência para os filhos, pois ele diz que “o Pai dará o Espírito Santo aos que lho pedirem”. Logo a quem ele faz referência de petição? Aos filhos!
Portanto, esta experiência não se trata de uma ação regeneradora do Espírito como em João 3.5, pois os que devem pedir por ela já são filhos, e como tal, renascidos e de novo gerados. Se você é filho de Deus, pode pedir que ele lhes suprirá abundantemente com o Espírito.

Foi assim que ocorreu em At 2. 4. Os discípulos estavam perseverantes em oração (At 1.14) e receberam a experiência do Espírito. Em At 4.31, os discípulos tendo orado foram cheios do Espírito. Em samaria os apóstolos oravam para que os samaritanos recebessem a experiência do Espírito (At 8.15) e em At 9. 17 foi em resposta à oração que Saulo tornou a ver e foi cheio do Espírito Santo.

III – UMA EXPERIÊNCIA DE JÚBILO

Lucas sempre em conexão ao recebimento do poder do Espírito ele vai vincular atividades carismáticas, ou seja, dons são relacionados.
O batismo com o Espírito Santo é um revestimento de poder do Alto, com a evidência física e inicial de falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo conceda pela sua instrumentalidade.
Esta evidência do batismo é notória em todos os exemplos bíblicos onde há concessão de poder do alto. Em pentecostes (At 2. 4), em Samaria (At 8. 14-17) embora não seja explícito no texto que eles falaram em línguas, estudiosos das Escrituras admitem que sem esta evidencia os apóstolos não saberiam de fato se eles teriam recebido ou não o batismo com o Espírito Santo, e até por que também a bíblia diz que “Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo lhes ofereceu dinheiro” (At 8. 18). Raciocinemos pois, o quê ele viu? Certamente o mesmo sinal descrito no restante do livro de Atos, línguas estranhas.

Sobre Saulo em Damasco também é possível esta manifestação pois em Atos 9. 17-18 diz que Saulo foi “cheio do Espírito Santo” e mais tarde em 1 Co 14. 18 ele diz: “falo mais em línguas do que todos vós.” Ele não estava falando de idiomas, e sim de línguas que provém do espírito humano (1 Co 14. 2), impulsionado pelo Espírito de Deus (1 Co 14. 14; At 2. 4).
Sobre os irmãos na casa de Cornélio vemos a mesma manifestação, e Pedro ficou pasmado pela forma em que o Espírito veio sobre eles (At 10. 45-46; 11. 15-17). Eles falavam em línguas e magnificavam a Deus. Sobre os discípulos em Éfeso da mesma forma, após mais ou menos vinte anos após o pentecostes, ele receberam o cumprimento da promessa, e falavam em línguas e profetizavam (At. 19. 6).

CONCLUSÃO

Nós aprendemos pela palavra que o Senhor deseja que busquemos esta tão maravilhosa promessa da experiência do Espírito, pois somente através do Poder do Espírito Santo é que poderemos cumprir do mesmo modo que a igreja primitiva cumpriu, o propósito de Deus para nossa geração.
Portanto, busquemos, peçamos e batamos na porta da graça até que “seja derramado sobre nós o Espírito lá do alto” (Is 32. 15).

Não se contente com nada menos do que a poderosa unção do Espírito sobre você. Ele deseja lhe inundar e ativar em ti os seus dons. É através da oração e busca sincera que o Espírito vem atuar sobre corações sedentos.

Sem medo de receber alguma outra coisa, pois a promessa é que se pedirmos o Espírito ele não nos dará uma escorpião ou uma cobra, peça ao Senhor para lhe encher do seu poder. A unção já está aí. Receba em nome de Jesus! 

Vem Espírito Santo! Sopra sobre este servo de Deus!

sexta-feira, 6 de abril de 2018

O BATISMO COM FOGO

E já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore pois que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo. Eu, na verdade vos batizo em água, na base do arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu, que nem sou digno de levar-lhe as alparcas; ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo. A sua pá ele tem na mão e limpará bem a sua eira; recolherá o seu trigo ao celeiro mas queimará a palha em fogo inextinguível.”  Mt 3. 10-12

O pentecostalismo se destaca dentre os demais seguimentos históricos do cristianismo por sua ênfase na doutrina bíblica do batismo no Espírito Santo como sendo uma benção distinta e separada da conversão e também do wesleyanismo por não igualar esta experiência com a santificação.
Por meio de uma ênfase habilitadora e carismática, o batismo no Espírito é visto como um revestimento de poder sobrenatural (Grego: dynamis), que capacita o salvo na expansão do Reino de Deus aos moldes da igreja primitiva, “Porque o Reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder.” 1Co 4. 20.

Apesar de haver dentro do meio reformado (alguns puritanos) e wesleyano a compreensão do batismo no Espírito como sendo uma benção separada e diferente da conversão o pentecostalismo se encontra só na visão carismática da doutrina, porém no que se refere à interpretação do texto de Mateus 3. 11 não há unanimidade dentro do pentecostalismo clássico e por mais que haja divergências na compreensão desta doutrina, há não-pentecostais que concordam com alguns pentecostais na visão de que “o batismo com o Espírito Santo e com fogo” é um só e mesmo evento, diferindo apenas no que consiste tal batismo, pois estes não-pentecostais são defensores da visão de que o referido batismo é a conversão.

SOBRE O BATISMO NO ESPIRITO E FOGO
PENTECOSTAIS
NÃO PENTECOSTAIS
COMO UM SÓ EVENTO
Anthony D. Palma, French Arrington
D. A. Carson, Lloyd-Jones
COMO DOIS EVENTOS DISTINTOS
Stanley Horton, Craig Keener
John Stott, Augustus Nicodemus

Este breve estudo pretende trabalhar o assunto entre teólogos pentecostais e advogar sobre “o batismo com o Espírito Santo e com fogo” como sendo uma única benção.
Os que acreditam que a expressão “batismo com o Espírito Santo e com fogo” denota dois eventos distintos, trazem a lume a questão do contexto, onde este expressa claramente juízo de Deus para os impenitentes.

O teólogo pentecostal Craig Keener diz o seguinte:
“Mas, é o que a bíblia quer dizer quando diz 'batismo de fogo' nesta passagem? Às vezes na bíblia, o fogo é usado como um símbolo da intensa santidade de Deus ou das evidências que trazem purificação, mas quando no Novo testamento o fogo é colocado junto com a imagem do batismo, isso não tem a ver com purificação simples do indivíduo, mas com a purificação de todo o mundo através do juízo.” [1]
Mais a frente ele vai afirmar que “Nos versículos que lhe antecedem e aqueles que seguem o nosso versículo, 'fogo'  refere-se ao inferno (Mt 3. 10, 12)”.

O notável e já falecido teólogo pentecostal Stanley Horton concorda com Keener quando diz:
“Quando Jesus fala sobre o fogo, refere-se ao do juízo ou da destruição, especialmente o Inferno (gehenna), que é o lago de fogo (Mateus 5. 22; 18. 8, 9)”. [2]
Apelando para o contexto ele diz que “Seria estranho se o fogo em Mateus 3. 10, 12 significasse uma coisa, ao passo que, sem a minima explicação, significasse outra bem diferente no versículo 11”. [3]
Tanto Keener quanto o Horton são pentecostais, e em comum acordo concordam que o “batismo com fogo” registrado em Mt 3. 11 e Lc 3. 16, se refere ao juízo divino.

Realmente o contexto do versículo sendo analisado de modo superficial sem se levar em consideração algumas peculiaridades dos agentes neles descritos, sim, podem levar a conclusão de o “batismo com fogo” é uma das expressões para o juízo divino contra os impenitentes.

Agora partiremos para a opinião de outros dois teólogos pentecostais a começar do French L. Arrington e logo após o Anthony D. Palma. Sobre o batismo com o Espírito Santo e com fogo, comentando o texto paralelo em Lc 3. 16, nos diz  Arrington:
“João Batista não somente prega um batismo “com o Espírito Santo”, mas também um 'batismo com o Espirito Santo e com fogo' (ênfase do autor).  O batismo com fogo pode (ênfase minha) se referir a um segundo aspecto do ministério de Jesus: purificação e julgamento. Porém, 'fogo' no versículo 16 não diz respeito, pelo menos primariamente, ao julgamento final e à destruição por fogo dos ímpios, mas aos acontecimentos momentosos do livro de Atos.” [4]

Ele expressa clara rejeição à ideia de que neste texto há menção de “um batismo no Espírito para os salvos e um batismo de fogo para os ímpios” como advogam alguns. Arrington vai relacionar o “fogo” de Lc 3. 16, e consequentemente em Mt 3. 11, ao que foi manifesto visivelmente em At 2. 3, “línguas repartidas como que de fogo”, defendendo que é um só e o mesmo batismo.
Anthony D. Palma, como lhe é peculiar em seu livro “O Batismo no Espírito Santo e com Fogo” vai apresentar várias visões sobre este assunto, dentre elas as duas citadas aqui. Quando ele emite sua opinião sobre o assunto ele afirma, meio que de modo tímido, ou não tão claro quanto o French Arrington, que “o fogo no dia de Pentecostes não tinha natureza destruidora” [5], ele relaciona claramente o “fogo” de Mt 3. 11 e Lc 3. 16 ao “fogo” do pentecostes.

Mesmo após ser vista a opinião destes gigantes da teologia pentecostal, fica a interrogação, “mas do que se trata este batismo com fogo”?

Antes de apelar para o contexto do versículo 11, precisamos entender do que se trata e onde está inserido tal versículo. Primeiramente, é necessário levar em consideração que não temos a inscrição completa e na íntegra deste discurso de João batista, pelo fato dele ter sido registrado entre vinte a quarenta e cinco anos após sua elocução. Mateus e Lucas narram em suas perícopes aquilo que o Espírito lhes trouxe à mente para a edificação e instrução do público a qual o texto foi destinado e para nós consequentemente. O fato de não termos acesso a completude do discurso de João não nos permite abordar o contexto, nos versículos 10 e 12, como sendo definitivo em nossa interpretação do que venha se tratar o “batismo com fogo” do versículo 11. Então, se tratando de uma narração, Mateus seleciona os pontos a serem escritos pelo grau de importância dado ao público que ele destina seu evangelho, no caso aos judeus.

João está pregando, dele se aproxima muitos fariseus e saduceus. Lançando-lhes em rosto sua situação de incredulidade, ele os chama de “raça de víboras” e os instiga ao arrependimento, base de sua proclamação (Mt 3. 1-8).
João lhes censura a presunção de serem filhos de Abraão, mas permanecerem em sua religião dissociada da vida sincera e piedosa devida ao servo de Deus. Pois pensavam estes que a descendência física de Abraão lhes colocava automaticamente no Reino de Deus.

Isto posto, João lhes diz o seguinte, que estes que eram batizados por ele em águas seria batizado por Jesus. Mas o batismo de Jesus era superior ao dele. Agora, vamos prestar atenção é um detalhe. João lhes diz:


"Ele VOS batizará com o Espírito santo e com fogo".


Percebam que ao mesmo público que João direciona o batismo com o Espírito, ele assim o faz com o "batismo com fogo". Ou seja, quem receberia um batismo concomitantemente receberia o outro. Não por ser dois batismo em um só, mas por ser um só batismo com a utilização de uma dupla linguagem. Veremos mais sobre isso a seguir.


O pastor batista carismático, José Rego do Nascimento vai argumentar da seguinte forma, concordando com esta visão:

"Se João estivesse visando dois grupos distintos e não um só, possivelmente diria: Ele vos batizará com o Espírito Santo OU  com fogo. Mas tal distinção não está no texto. A conjunção, no grego original, é KAI, simples copulativa, indicando íntima relação. João está objetivando determinadas criaturas que seriam batizadas por jesus com o Espírito Santo e com fogo" [6]. 


Utilizando o grego o Pr. José Rego fortalece nosso argumento de que João nem tenciona dois batismos para dois públicos distintos, mas um só. Ainda deve-se salientar que no texto grego não existe a expressão "COM fogo", mas somente "e fogo" deixando claro que tal conjunção no grego torna o fogo inerente ao Espírito e não algo paralelo e à parte deste, como sendo uma execução de juízo pelo Filho de Deus. Ele próprio deixou claro que foi enviado não para condenar, mas para salvar (Jo 3.17).


Mais adiante ele vai citar o The new International Standard Bible Encyclopaedia que diz:
"A copulativa KAI requer que o batismo 'no Espírito Santo e fogo' seja considerado como uma e a mesma cousa" [7].


Sendo assim, creio que este texto envolto em tanta controvérsia doutrinária fala-nos não sobre um juízo iminente, mas sobre a benção do batismo no Espírito Santo. E como vemos na narrativa do pentecostes, não podemos identificar este batismo de fogo com uma benção de santificação, mas como o revestimento de poder. Ou seja, o batismo com fogo é a plenitude do Espírito que os discípulos receberam e que está disposta a tantos quanto forem chamados por Deus (At 2. 39).


[1] KEENER, Craig S. A Bíblia em seu contexto. Disponível para download: http://teologiacarismatica.com.br/category/downloads/

[2] HORTON. Stanley M. A doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. Pág. 97
[3]Ibid.
[4]PALMA. Anthony D. O batismo no Espírito Santo e com Fogo. Pág.60
[5]ARRINGTON. French. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento
[6]NASCIMENTO. José Rego. Calvário e Pentecoste. Pág. 103
[7]Ibid.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

A BUSCA FRUSTRADA PELA IGREJA PERFEITA

Uma igreja perseverante nas disciplinas espirituais, onde a unidade era um dos seus principais fundamentos. Uma igreja sem mácula, nem ruga onde os mais abastados distribuíam com os mais necessitados os seus bens, e entre eles não haviam quem sofresse falta de nada.

"E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. 
E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos. 
E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. 
E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister." At 2. 42-45

Este é o relato bíblico inicial acerca da Igreja primitiva. De fato era uma igreja que manifestava sua filiação com Deus. Porém, mesmo sendo igreja, e como tal uma extensão de Cristo, sendo seu corpo, é composta por pessoas que ainda não passaram pela redenção final da glorificação.

Como salvos que somos, certamente somos santos posicionalmente falando. Ou seja, o fato de termos sido inseridos em Cristo na conversão nos coloca em uma outra posição, somos filhos de Deus. membros de Cristo (1 Co 12. 27; Ef 5. 30), uma posição que assumimos no momento de nossa salvação, no mesmo instante em que somos declarados justos por Deus através de Jesus (Rm 5.1)

O teólogo pentecostal de vanguarda, Meyer Pearlman diz o seguinte sobre o assunto:

"O apóstolo Paulo escreve a todos os crentes como a "santos" (literalmente, "os santificados") e como já santificados (1 Cor. 1:2; 6:11). Mas essa carta foi escrita para corrigir esses cristãos por causa de sua carnalidade e pecados grosseiros. (1 Cor. 3:1; 5:1,2,7,8.) Eram "santos" e "santificados em Cristo", mas alguns desses estavam muito longe de ser exemplos de cristãos na conduta. Foram chamados a ser santos, mas não se portavam dignos dessa vocação santa. Segundo o Novo Testamento existe, pois, um sentido em que a santificação é simultânea com a justificação." [1]

Sendo assim, somos santos pelo fato de estarmos em Cristo e Cristo em nós. No entanto a santidade não é somente mistica e posicional, mas também deve ser real, prática e progressiva. 

A igreja primitiva em sua infância também manifestou a necessidade desta santificação real e progressiva, mostrando que mesmo em sua fase inicial ela necessitava de ser aperfeiçoada. Nem mesmo a Igreja primeva era perfeita. Veremos já em Atos dos apóstolos, poucos capítulos após este que acima citamos, demonstração de imperfeição na igreja primitiva. No capítulo 6 veremos a queixa dos gregos por suas viúvas estarem padecendo necessidade por falta de assistência da igreja, onde é descrito que elas estavam sendo "desprezadas", literalmente "negligenciadas".

As cartas do novo testamento foram escritas justamente para conclamar os salvos de então à sua posição de santificação e pureza, para a qual foram chamados, pelo fato de estarem agindo de acordo com  o estilo de vida do qual foram resgatados. Por isso há tantos alertas para nós não nos "conformarmos com o mundo" (Rm 12. 2), nos portarmos como "nova criatura" (2Co 5.17), nos "despirmos do velho homem" (Ef 4.22), pois como homens ainda não glorificados, estamos sujeitos às imperfeições da carne.

Então, tendo em vista esta realidade onde e como encontrar a lúdica "igreja perfeita"? Não obstante, no seu aspecto universal a Igreja de Cristo é perfeita e aperfeiçoada (Ef 1.4), mas como corpo local, comunidade de santos, na qual não sabemos quem é salvo de verdade e quem está sendo aperfeiçoado em Cristo, temos de aceitar que estamos sujeitos à imperfeições.

Entendamos uma coisa. A igreja local, é composta de pelo menos dois tipos de pessoas. A pessoa nascida de novo, salva na pessoa de Jesus Cristo e o joio. Mesmo assim, dentro dos que são salvos existem aqueles que são meninos na fé, e chamados por Paulo de carnais (1Co 3. 1-5). Estes são aqueles envolvidos em dissensões na igreja, que mesmo tendo muitos anos de convertido, mas ainda age como novo convertido. São imaturos. E cá pra nós, até mesmo aqueles que se acham maduros vez ou outra se acham em imaturidade. Não como, neste tabernáculo de carne, sermos envoltos em uma constante perfeição. 

Portanto, se você procura por uma igreja perfeita, sinto em lhe dizer, que você não vai encontrar ainda nesta terra. No entanto, é chamado pelo Espírito a congregar para como um corpo trabalhar para o aperfeiçoamento dos santos e com eles ser aperfeiçoado e crescer em Cristo em amor (Ef 4. 13; 1Pe 4.10).

[1] PEARLMAN, Meyer. Conhecendo as Doutrinas da bíblia.